Pode-se entender a desnutrição como uma doença de origem complexa e de múltiplas causas. Ela decorre da carência de nutrientes necessários para que o organismo realize seu metabolismo fisiológico (1). A utilização isolada do índice peso/idade na caracterização de um déficit nutricional, ainda que muito difundida, apresenta algumas limitações. Considera-se adequado seu uso para crianças no primeiro ano de vida, cujas alterações de peso são mais sensíveis às mudanças do estado nutricional e da saúde geral (2). Fora deste grupo etário, o comprimento/altura passa a refletir melhor o impacto das condições de vida ou de enfermidades associadas ao estado nutricional, recomendando-se o uso simultâneo dos índices altura/idade e IMC, permitindo-se identificar temporalmente o processo do desvio nutricional, ou seja, se iniciou no passado ou se é mais recente (2,3). Assim, deve-se considerar sempre, na monitorização do estado nutricional da criança, os índices de equilíbrio entre altura e idade, peso e idade e peso e altura, e valores de IMC. Estes dados precisam ser registrados na Caderneta de Saúde da Criança, onde se encontram os valores de referência determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – curvas de 2006 (para crianças menores de 5 anos) e 2007 (para a faixa etária dos 5 aos 19 anos) (2,3). O padrão da OMS deve ser usado para avaliar crianças de qualquer país, independentemente de etnia, condição socioeconômica e tipo de alimentação  No entanto, para que uma criança seja efetivamente classificada dentro de um  grupo de “desvio nutricional”, é necessária a avaliação das características individuais e do meio onde vive, para que possamos atribuir as causas para ela estar fora da curva e agir sobre elas, quando possível (3). No que se refere à caracterização de uma criança desnutrida, o déficit estatural é melhor que o ponderal como indicador de influências ambientais negativas sobre a saúde da criança, sendo o indicador mais sensível de má nutrição nos países. A baixa estatura é mais frequente nas áreas de piores condições socioeconômicas e quatro vezes mais prevalente em crianças com baixo peso ao nascimento (4). O estado nutricional infantil é determinado, na dimensão individual, pelo consumo alimentar e pelo estado de saúde da criança. Estes dependem dos cuidados dispensados pela família à criança, da salubridade do ambiente e da disponibilidade de alimentos no domicílio, da qualidade do vínculo entre mãe e filho e das condições de nascimento da criança (2). Sabe-se, porém, que o estado nutricional varia, mesmo nas mesmas condições ambientais, isto é, entre crianças de igual nível socioeconômico, algumas desnutrem e outras não (5). Por ter um caráter multifatorial, condições sociais adversas – como situação de pobreza da família, baixa escolaridade materna e grande número de filhos – também podem estar implicadas na gênese da desnutrição, e devem ser consideradas. Uma vez identificado qualquer desequilíbrio nestes fatores, uma avaliação completa do estado nutricional é mandatória, contemplando anamnese alimentar e dados de ingestão (com atenção especial ao desmame e introdução de alimentação complementar), exame e história clínica (doenças diarreicas, infecções respiratórias agudas, higiene), calendário vacinal, dados psicossociais (relação familiar/comportamento da criança) (2,3). Igualmente importante no seguimento desses casos – a partir da identificação da criança com déficit de crescimento/baixo peso – é envolver a família no tratamento, porque muitas vezes as alterações ocorrem de forma moderada e leve, não sendo perceptíveis para os familiares.

Fonte: https://aps.bvs.br/aps/ara-definicao-de-crianca-desnutrida-considera-se-essencialmente-o-peso-abaixo-do-percentil-10/ (via RSS)