A organização do acolhimento em saúde não inclui exclusivamente a demanda espontânea, mas um conjunto de ações que objetivam dar respostas às necessidades da comunidade. Deve, portanto, partir do diagnóstico de problemas e do planejamento em saúde, buscando romper com a ideia do mesmo como uma ação pontual, centrada na doença e nos procedimentos e não no sujeito e em suas necessidades. (1) Nesse sentido, as informações originadas do diagnóstico das principais demandas e necessidades dos usuários devem promover reflexão, subsidiando a análise e as mudanças da prática e dos resultados do trabalho e, consequentemente, o planejamento em saúde. (2) Para tanto, é preciso identificar os problemas e as potencialidades relacionadas às diferentes questões envolvidas com o acolhimento, como aquelas relativas à própria organização dos serviços, à satisfação dos usuários e ao desenvolvimento e crescimento profissional e pessoal dos trabalhadores/equipes nesse processo (1). Os diferentes aspectos devem ser discutidos amplamente na perspectiva de uma avaliação participativa e formativa envolvendo profissionais, usuários e gestão municipal, buscando provocar movimentos diversos, como a capacitação, o levantamento, a construção e a pactuação de ações que orientem a renovação do trabalho/serviços e propiciem aprendizagens coletivas (1). Como resultado, a organização do atendimento às demandas espontâneas e programadas, ambas integrantes do processo de acolhimento em saúde, deve basear-se nas necessidades observadas e se dar como um processo contínuo que permite modificações a medida que novas demandas surgem (3). Dados epidemiológicos podem ser úteis para indicar uma necessidade e assim organizar o serviço, no entanto é importante se ter em mente que não é a única forma de caracterizar essas necessidades (3). Para isso pode-se realizar um diagnóstico das principais queixas decorrentes das demandas espontâneas e também das necessidades observadas e relatadas durantes visitas domiciliares ou nos grupos. A partir desse diagnóstico podem-se programar quantas consultas de demanda espontânea e programada serão disponibilizadas, quantas consultas serão destinadas aos retornos de rotina dos pacientes programados, como organizar a agenda do médico, da enfermagem e da odontologia e como organizar o atendimento no curativo, vacina, farmácia e em outros setores da Unidade de Saúde. Assim sendo, para acolher as demandas da comunidade não basta distribuir senhas e encaminhar todas as pessoas ao atendimento médico. O acolhimento com classificação de risco, um dos dispositivos da Política Nacional de Humanização, justamente prevê, para promover mudanças nos modelos de atenção e gestão, o rompimento com a lógica perversa do atendimento por ordem de chegada (2). Nesse sentido, busca-se sua organização de modo a promover ampliação efetiva do acesso à Atenção Básica e aos demais pontos de atenção do SUS, juntamente com outras medidas organizacionais instituídas, objetivando a redução/eliminação de filas, a organização do atendimento com base em riscos priorizados e a adequação da capacidade de resolubilidade (2). Com frequência as equipes planejam a agenda distribuindo 60% ou 70% das vagas de consultas para atendimento à demanda programada e 40% ou 30% das vagas para demanda espontânea4. Um problema que surge nessa forma de organização é que ela pode engessar o sistema por não permitir flexibilizar a agenda conforme as necessidades da comunidade, além de, frequentemente, levar a demora nos atendimentos por agendas lotadas (5). Um novo modelo tem surgido, o Acesso Avançado, que tem por objetivo reduzir as filas de espera na Atenção Primária. De acordo com este modelo, os pacientes que necessitam de atendimento são agendados para o mesmo dia com pessoas de sua equipe de atendimento. Nos sistemas tradicionais, os pacientes acabam sendo direcionados para atendimento com um membro de outra equipe que é desconhecido ao paciente, mesmo que seu próprio médico ou enfermeiro esteja presente, isso porque a agenda de consultas do médico/enfermeira de sua referência está lotada. Nesse caso a continuidade dos cuidados fica prejudicada. O novo modelo (acesso avançado) pode melhorar a continuidade porque todos os médicos/enfermeiros têm agendamentos disponíveis. (5) O acesso avançado rejeita a ideia de classificar a demanda em duas filas: de rotina e urgência. O objetivo do projeto principal de um avançado sistema de acesso é fazer o trabalho de hoje. Esse modelo de acesso demanda os agendamentos pelo tipo de médico e não por urgência clínica. A questão crucial para a atribuição de agendamentos é simplesmente: “seu médico de referência aqui hoje?” Neste modelo, cada médico/enfermeiro consegue atender diariamente demandas dos seus próprios pacientes. Algumas demandas podem ser agendadas para o futuro, isto é, visitas para os pacientes que não desejam a oferta para hoje, e para os pacientes que são vistos hoje e precisam voltar em algum futuro definido. (5) Ao oferecer a todos os pacientes uma consulta hoje, o modelo praticamente elimina a função de triagem, liberando o pessoal para outras tarefas e reduzindo interrupções médicas/enfermeiros e telefonemas de retorno. Alguns médicos podem pensar que a demanda de pacientes para consultas se tornará insaciável, criando mais e mais trabalho a cada dia. Na verdade, sistemas que implementaram o acesso avançado descobriram que a demanda de pacientes diminui, simplesmente porque os pacientes são mais frequentemente capazes de ver o seu próprio médico(equipe). (5) O acesso avançado pode funcionar bem, mesmo se a demanda exceder a capacidade em um determinado dia. No entanto, se a procura excede a capacidade permanentemente, nenhum sistema vai funcionar, nem o modelo tradicional nem o acesso avançado. No entanto, para isso é necessário delimitar o número de pessoas por equipe, para que ela possa dispor de um melhor cuidado para o paciente, melhorando o acesso ao profissional de referência e reduzindo a sobrecarga de trabalho para esses profissionais. Para calcular o número de paciente por equipe deve-se avaliar o número de pessoas que procuraram consulta médica nos últimos 18 meses. Então se usa uma fórmula: número de pacientes por médico x consultas por paciente por ano (demanda) = consultas médicas por dia x dias trabalhados por médico por ano (produção). (5)

Fonte: https://aps.bvs.br/aps/como-organizar-o-acolhimento-em-saude/ (via RSS)